Uma Diva para chamar de Nossa
Nunca me senti à vontade para debater temas ligados ao cenário musical do universo LGBT. Sempre que numa roda de amigos ou mesmo num grupo de whatssap alguém comenta efusivamente a respeito do lançamento de um single ou de uma perfomance num festival premiado, aquilo me soa tão distante quanto o universo dos campeonatos de MMA ou das exportações dos commodities agrícolas. Arrisco um ou outro comentário para não parecer um E.T. no meio da terra prometida, ou simplesmente alguém bastante desinformado, mas o fato é que guardo muito pouco no meu hd interno referências da cena pop ocidental, sobretudo a norte-americana.
Talvez o idioma seja um grande impedimento, pois nunca me interessei pela língua inglesa e por todos aqueles versos de dificílima pronúncia que para mim sempre soaram como braile. Mas é verdade também que diferentemente dos meus amigos eu não fui educado pela extinta MTV. Não cresci absorvendo nada da cultura pop dos anos 90 nem acompanhei a consolidação do movimento como uma linguagem universal.
Todo esse lengalenga vem ao encontro do que um aluno me disse recentemente e pelo motivo, me vi obrigado a dar um mergulhinho no assunto. Ele, ao contrário de mim, é uma autoridade no tema e estava (sic) reclamando a ausência de artistas LGBT da música pop no seio do mainstream ou no topo das paradas de sucesso mundiais.
A sua pergunta era mais ou menos a seguinte: "Por que, atualmente, uma mulher, como Ariana Grande (ele a tomava como exemplo), angaria uma repercussão mundial entre o público LGBT, enquanto um outro artista, seja L ou G ou B ou T, com mesmo potencial artístico e sob mesma segmentação musical, não consegue?
Seu questionamento obedece a uma linha de raciocínio que, historicamente, situa a indústria do show biz americano dentro da sociedade global fundamentada, como sabemos, na negação de direitos a minorias. Sob essa ótica, artistas assumidamente quer sejam L, G, B ou T jamais teriam espaço no mercado fonográfico norte-americano da década de 60, por exemplo.
Não por acaso, Judy Garland, Liza Minnelli, Barbra Streisend, Cyndi Lauper, Cher, Celine Dion, e tantas outras figuras fazem sucesso até hoje no público gay. Essas mulheres despertam fascínio entre seus milhões de fãs ao redor do mundo por terem se projetado acima dos rótulos e ditames pré-estabelecidos pela indústria cultural sem determinar necessariamente a quais públicos seus trabalhos interessariam.
Eu não acompanhei a carreira de nenhuma dessas figuras e nem o nascimento de suas sucessoras. Não esperei ansiosamente pela exibição de videoclipes, não participei de grupos de discussão, nem de fã-clubes, não me identifiquei com nenhuma das canções, não chorei ouvindo-as, não ensaiei coreografias diante do espelho, não fiz nem desfiz amizades a propósito e, embora não tenha uma diva para chamar de minha, tentar explicar esse fenômeno sob o viés dos "órfãos de uma representatividade LGBT no cenário pop mundial" significa querer racionalizar a sedução e o deslumbramento que artistas exercem sobre seus admiradores.
Paixão nenhuma se explica, inclusive a de um fã por um ídolo. Meus amigos sabem o nome de todos de álbuns, dublam músicas, precisam datas de lançamento, números na Billbord, coreografias, gafes, looks, prêmios, capazes das maiores declarações de amor. E nada se compara ao que Lady Gaga, por exemplo, mobiliza em um Little Monster: uma coisa que dinheiro não compra, tempo não muda e política nenhuma garante.
Espero que um dia, em intenção do meu aluno, possa estrelar na indústria do pop mundial uma travesti, uma transexual, ou qualquer outro artista de um dos filões L, G, B, T.... e que ela ou ele figure capas de revista, dite tendências de moda e comportamento, seja pauta de colunas de fofoca, perseguida por paparazzi, até vítima de haters mas sobretudo angarie para si quantias exorbitantes de dinheiro que fazem girar as rodas do mercado capitalista. Mas sou capaz de apostar que dificilmente atinjará tal façanha se não conseguir, assim como uma diva, fazer os nossos olhinhos brilharem e o coração falar mais alto.

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